terça-feira, 13 de março de 2012

O Perfume - A História de um Assassino (DL2012)


Livro: O Perfume - A História de um Assassino (Patrick Süskind). Ed. Record, 1985. 263 páginas.

Sinopse: "França, século XVIII. O recém nascido Jean-Baptiste Grenouille é abandonado pela mãe junto a restos de peixes em um mercado parisiense. Rejeitado também pelas pessoas e pela natureza, a qual lhe negou o direito de exalar o cheiro característico dos seres humanos, o menino Grenouille cresce sobrevivendo a repúdio, acidentes e doenças. Ainda jovem descobre ser dotado de imensa sensibilidade olfativa e parte em busca da essência perfeita, do perfume que lhe falta para dominar as pessoas. Para tanto, decide usurpar a essência dos corpos de suas vítimas."

Atenção! A resenha abaixo pode conter SPOILERS. Por ter me fascinado bastante, não me contentei em fazer uma resenha pequena do livro. Ao contrário, me prolonguei um pouco além do costume porque quis registrar os principais acontecimentos da história, bem como algumas conclusões que tirei da obra.

Resenha: O autor, Patrick Süskind, tem muita habilidade com a escrita. Descreve com perfeição a França do século XVIII, com seus habitantes, arquitetura, costumes e, principalmente, odores. O livro é dividido em quatro partes. O início já revela uma narrativa fria, calculista, objetiva. Uma narrativa sem julgamentos, pudores, emoções sobre a infância e a adolescência do protagonista, Jean-Baptiste Grenouille. Já o meio evolui de forma mais lenta, com trechos que chegam a pecar pelo excesso de detalhes. Algumas passagens são bem paradas, chegam a ser maçantes (como o período de isolamento de Grenouille na montanha). Já a última parte é a mais emocionante, pois, guarda a maior parte da ação, culminando com um final surpreendente.

Embora eu tenha escolhido "O Perfume" em razão do tema do mês de março do Desafio Literário (serial killer), o livro somente vai tratar de assassinatos em série depois da página 200. Antes disso, acompanhamos a trajetória de Grenouille, desde o seu nascimento. Rejeitado primeiro pela mãe e depois pelas amas-de-leite, o bebê "que não tem cheiro" é entregue ao padre Terrier, do convento Saint-Merri. De lá é levado a Madame Gaillard, uma vez que, "desde que lhe pagassem, ela aceitava crianças de qualquer idade e de qualquer espécie". 

Na casa de Madame, Grenouille cresce sem receber amor. É visto como estranho pela dona da casa e pelas outras crianças, que até mesmo tentam matá-lo. Na adolescência, quando acaba o "contrato de criação", o menino é entregue a Monsieur Grimal, dono de um curtume, com quem passa a viver e a trabalhar. Seu mestre não era um homem fácil - "com a primeira lufada sorvida da aura de odor de Grimal, Grenouille soube que este homem era capaz de surrá-lo até a morte à menor desobediência". 

Sua sensibilidade olfativa extraordinária leva Grenouille a dar escapadelas para explorar os odores da cidade de Paris, cheia de pessoas e coisas com cheiros desagradáveis. Em uma dessas saídas, sente um perfume maravilhoso. Segue o aroma até chegar à moça que o exala. Comete, então, seu primeiro assassinato. 

Algum tempo depois, alegando ser o dono do "melhor nariz do mundo", consegue um novo emprego, com o decadente perfumista Giuseppe Baldini. Descobre a arte de criar fragrâncias, a partir da combinação de essências, aprende a prensar e a destilar para extrair o odor das flores e das plantas. Desenvolve, assim, fantásticos produtos aromáticos - perfumes, loções, etc., trazendo fama e riqueza ao Monsieur Baldini. 

Aos dezoito anos, determinado a aprender outros meios para se extrair o odor das substâncias, decide partir de Paris rumo a Grasse, cidade famosa por concentrar muitos perfumistas. No meio do caminho, fica fascinado pelos aromas do campo. Conclui que precisa fugir dos cheiros das pessoas. Por isso, caminha por quilômetros, até chegar a uma montanha. Sobe até o seu cume, o Plomb du Cantal. Vê, aliviado, que está completamente só. Encontra uma caverna e se instala. Fica satisfeito convivendo apenas com seus pensamentos. Não precisa de mais ninguém: ele se basta. Vive (ou melhor, sobrevive) ali por sete anos. Grenouille teria ficado para sempre, isolado, até morrer, se não fosse uma "catástrofe": descobre que não tem cheiro. 

Desta forma, decide abandonar a montanha e parte na direção sul. Chega à cidade de Montpellier. Sua aparência horrível (cabelos, barba e unhas enormes, roupas aos trapos) chama a atenção de todos. O Marquês de la Taillade-Espinasse resolve usa-lo para demonstrar suas "teorias científicas". Grenouille passa por uma verdadeira transformação, ganhando nova aparência e vestimentas. E, o mais importante, passa a ter cheiro, já que desenvolve um perfume semelhante ao cheiro humano.

Percebe que as pessoas passam a lhe tratar melhor, com mais respeito e consideração. Não mais causa medo, estranheza ou desprezo. Não satisfeito, resolve querer mais... Determinado a desenvolver um aroma irresistível, com o qual possa conquistar o coração das pessoas, fazendo todas lhe amarem, dirige-se a Grasse. 

"Pois as pessoas podiam fechar os olhos diante da grandeza, do assustador, da beleza, e podiam tapar os ouvidos diante da melodia ou de palavras sedutoras. Mas não podiam escapar ao aroma. Pois o aroma é um irmão da respiração. Com esta, ele penetra nas pessoas, elas não podem escapar-lhe caso queiram viver. E bem para dentro delas é que vai o aroma, diretamente para o coração, distinguindo lá categoricamente entre atração e menosprezo, nojo e prazer, amor e ódio. Quem dominasse os odores dominaria o coração das pessoas."

Lá arranja um emprego no ateliê de perfumes da Madama Arnulfi, junto ao aprendiz Druot, um homem enorme que "estava acostumado a partilhar a cama de madame". E é em Grasse que Grenouille fareja o melhor perfume que já sentiu em sua vida, o da jovem Laure Richis, e decide se apropriar dele. Para alcançar seu objetivo, arquiteta um plano que envolve o assassinato de muitas jovens. É aí que começa verdadeiramente a ação, a qual nos leva até os acontecimentos finais, bem incomuns. Surpreendentes.

Depois de terminar a leitura, fiz algumas reflexões. A primeira conclusão a que cheguei é que Grenouille nunca foi, na realidade, humano. Não exalava cheiro algum, dormia em qualquer lugar, se alimentava de qualquer coisa (até de musgo, larvas), não interagia socialmente com ninguém. Seu único sorriso foi arquitetado (página 253). Sua existência foi bem mais animal do que humana - sem amor, conforto, diversão ou lazer.  Por isso, o livro o comparou tantas vezes a "carrapato" ou "aranha".

Outra conclusão é a seguinte... Todas as pessoas que, de algum modo, conviveram com Grenouille depois tiveram um triste fim... Parece que, por onde passou, nosso protagonista deixou um rastro de tragédia. Ninguém teve final feliz: Madame Gaillard, Grimal, Baldini, Taillade-Espinasse, Druot... Além das dezenas de jovens que intencionalmente assassinou, é lógico. Portanto, parece que tanto a ama Jeanne Bussie quanto o padre Terrier, que conheceram Grenouille bebê, tinham razão. Ele era mesmo um "demônio", um "anjo do mal", uma criatura amaldiçoada que nunca foi amado nem amou. Exceto, talvez, nos instantes finais da sua vida.


Agora estou curiosa para ver o filme, com o Dustin Hoffman no papel de Baldini. Deve ser, no mínimo, interessante!

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Para saber quais são os outros livros que escolhi para o Desafio Literário 2012, clique aqui.

8 comentários:

  1. fiquei bastante curiosa quanto ao filme tb! acho complicado adaptar algo cujo principal trunfo são as descrições olfativas... mas enfim, assistirei antes de julgar!

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    1. Já aluguei o filme, devo vê-lo à noite. Realmente, passar cheiros para a tela deve ser difícil - mas para as páginas de um livro também não é tarefa fácil... E Süskind conseguiu, né! Abs!

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  2. Adoro esse livro! Dá até pena do Grenouille.
    Já o filme... me decepcionou.
    Achei que distorceram o que era mais importante para o protagonista: encontrar o cheiro perfeito.
    Enfim, se assistir, diga o que achou.
    bjo

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    1. Vou vê-lo logo mais... Depois se eu tiver um tempinho faço uma resenha aqui no blog. Mas já estou preparada para dar coro ao bordão de que "o livro é sempre mil vezes melhor do que o filme". Bjs!

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  3. Esse livro é sinistro mesmo! Incrivel, eu meio que me apeguei ao Grenouille, apesar dessa figura não ter nenhuma característica humana além do corpo. A única pessoa que fez algum sentido em sua vida foi ele mesmo, narcisismo mode on. às vezes a sua falta de cheiro e o jeito como ele era quase invisível para os outros me fez pensar que ele nunca existiu mesmo. ou que não era para ter existido. Era para ter morrido quando nasceu.

    Enfim, tem vezes que eu sinto como se ninguem me visse (é por causa da minha timidez e culpa minha, eu sei). Agora acho que falarei que tenho sindrome de Grenouille XP

    E esse filme deve ser curioso, se o livro mal tem diálogos, é cheio de descrição e odores. Como sera que transpuseram os cheiros para as telas?

    Desculpe pelo comentário grande, me empolguei!
    Beijo!

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    1. Meu post é que ficou grande demais, também me empolguei! rs

      Concordo com você, Grenouille é narcisista total. O período em que viveu na montanha mostrou bem isso, como ele era auto suficiente, como ele se bastava...

      Depois vou tentar fazer uma resenha do filme, assim que o assistir! Bjs!

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  4. Ah, gente. Só quero curtir as resenhas e os comentários dessa obra que muito me impactou. Maravilhoso, o livro!

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  5. Eu li esse livro, realmente é uma história muito bem escrita e fascinante, porém um pouco monotona em algumas partes, pelo menos pra mim, mas mesmo assim o autor conseguiu prender o leitor do começo ao fim.
    O filme também foi muito bom, maas o livro é sempre melhor. hehe

    beijo
    criandorabiscos.blgospot.com

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